terça-feira, 31 de agosto de 2010

Fases do Grafismo

     Muitas vezes a expressão feita pela criança através do desenho é interpretada como meros rabiscos sem a compreensão de seu real valor e função.
     O desenho é uma forma de expressão, de comunicar idéias, pensamentos, sentimentos. “O desenho como linguagem para a arte, para a ciência e para a técnica, é um instrumento de conhecimento, possuindo grande capacidade de abrangência como meio de comunicação e de expressão” (Derdyk, 1994, p.20).
     O desenho não é, portanto, simplesmente cópia, reprodução. É também uma forma de revelar o conhecimento que a pessoa tem de mundo, dos objetos, lugares, pessoas, “...são tentativas de aproximação com o mundo. Desenhar é conhecer, é apropriar-se” (ibidem, p.24).
     O desenho é a primeira manifestação que nos acompanha desde os primórdios da história da humanidade,
[...]apesar de sua natureza transitória, o desenho, uma língua tão antiga e tão permanente, atravessa a história, atravessa todas as fronteiras geográficas e temporais escapando da polêmica entre o que é novo e o que é velho. Fonte original de criação e invenção de toda sorte, o desenho é exercício da inteligência humana (ibidem, p.46).
     O desenho não se restringe ao uso do papel, é exposto pelas tribos indígenas, em seu corpo; em muros; paredes; vidros; no chão; foi utilizado como escrita em cavernas, pedras; e atualmente fazemos desenho até pelo computador.
     O desenho passa por diversas fases até chegar ao seu estágio final, é, assim, que nos comportamos ao longo dos anos em frente a tal atividade. “O desenho como possibilidade de brincar, o desenho como possibilidade de falar, marca o desenvolvimento da infância, porém em cada estágio, o desenho assume caráter próprio” (Moreira, 1997, p.26).

1. DESENHO INFANTIL

     Para a criança, desenhar é uma diversão, “o desenho é o palco de suas encenações, a construção de seu universo particular” (Derdyk, 1994, p.50). Onde não é necessária a companhia de outra pessoa, apenas sua imaginação. Ela faz suas regras, seus limites, “...cria em torno de si um espaço de jogo, silencioso e concentrado ou ruidoso seguido de comentários e canções, mas sempre um espaço de criação. Lúdico. A criança desenha para brincar” (Moreira, 1997, p.15).
     O desenho é a primeira forma que a criança usa para se interligar com tudo, depois da fala, “é a manifestação de uma necessidade vital da criança: agir sobre o mundo que a cerca; intercambiar, comunicar” (Derdyk, 1994, p.51).
     O desenho é para a criança uma forma de linguagem, a qual ela utiliza como a fala ou os gestos. “A criança desenha para falar e poder registrar a sua fala. Para escrever” (Moreira, 1997, p.20). É, deste modo, a sua primeira forma de escrita.
     A própria criança emite críticas e julgamentos ao desenho que faz, sendo que, na maior parte deles, ela encontra-se satisfeita com os resultados. Porém, conforme afirma Perondi(2001), podem existir momentos em que a criança não se sinta satisfeita com um desenho que fez e com o qual, anteriormente, havia se satisfeito.
    Segundo o mesmo autor, o desenho infantil passa por duas etapas, que são a ação e a execução. Seus temas preferidos são referentes a todos os tipos de seres e objetos, de todos os gêneros. “O repertório gráfico fica condicionado ao meio em que a criança vive, mas é difícil explicar os motivos, ás vezes conscientemente, que levam a criança a produzir um determinado desenho” (Perondi, 2001, p.175). Os desenhos, afirma Perondi, são inspirados por circunstâncias imprevisíveis que se relacionam com acontecimentos próximos ou similares a experiências vividas. “O que é preciso considerar diante de uma criança que desenha é aquilo que ela pretende fazer” (Moreira, 1997, p.20).

2. FASES DO GRAFISMO

     Independentemente da idade, toda criança desenha. “Quando uma criança toma posse de algum instrumento que deixa marcas, certamente ele irá utiliza-lo para desenhar” (Perondi, 2001, p.179).
     Em cada etapa da infância, os desenhos são expressos em distintas formas, são essas diferenças que caracterizam as fases do grafismo.
    Constituem o grafismo as seguintes fases:

- Fase das Garatujas:  Essa fase pode ser freqüentemente reconhecida em desenhos de crianças com idade entre 2 a 4 anos. O desenho “não tem compromisso com representação de qualquer espécie”(Moreira, 1997, p.28). Neste momento, “a cor aparece por acaso e não por necessidade, é a cor que estava próxima da criança enquanto desenhava” (ibidem, p.29). Esta fase se caracteriza por três etapas distintas:
 Garatujas desordenadas: a criança “desenha pelo prazer do gesto, pelo prazer de produzir uma marca” (ibidem, p.28). Essa produção ocorre com rapidez, “não importando nem mesmo com qual das mãos segura o lápis” (Perondi, 2001, p.180). Geralmente “o espaço do papel é insuficiente” (Almeida, p.40), passando para a mesa. Nesta etapa são observados traços, começando pelo zigue-zague.

 Garatujas ordenadas: A criança relaciona seus gestos ao traço no papel e passa a domina-los. A criança descobre que “pode fazer distintos tipos de marcas e as experiência” (Perondi, 2001, p.181). Os desenhos ganham formas arredondadas, tornando-se circulares, mas não fechadas. Surgindo, assim, os caracóis e espirais.

 Garatujas nomeadas: neste momento, a criança passa a nomear suas garatujas.O adulto não deve interferir neste processo.

- Fase Pré-Esquemática ou do Simbolismo: Essa fase ocorre com maior freqüência entre crianças com idade entre 4 a 7 anos. A criança conquista novas formas, estas se tornam fechadas. “A cor que até então era indiferenciada começa agora a se destacar, apesar de ser totalmente arbitrária” (Moreira, 1997, p.36).
Nesta fase algumas crianças desenham num gênero denominado diagrama, outras obtém espécies de sóis, aranhas, etc. Nesta fase surge o homem-girino. O tamanho dos objetos se relaciona com seus juízos de valores.

- Fase Esquemática ou do Realismo Lógico: Constituí-se principalmente por crianças com idade entre 7 e 9 anos. A criança, nesta fase, já elaborou esquemas para representação dos objetos. A criança representa a realidade assim como ela entende e não como ela vê. Os objetos são desenhados conforme a sua importância. A figura humana passa a ser retratada de forma completa, aparecendo as primeiras forma de vestuários. O espaço passa a ser organizado: a linha em baixo representa o chão e a linha em cima o céu. O espaço entre a linha de cima e a de baixo é identificada como o ar. Aparece o rebatimento, onde a tridimensionalidade é reduzida a bidimensionalidade através da dobragem; e ainda os desenhos do tipo raio-x, que é a transparência. Diferentes episódios são reunidos num mesmo desenho. A cor é inicialmente utilizada em função do emocional, passando a um esquema mais rígido, ou seja, relações análogas definitivas.

- Fase do Realismo ou Idade da Turma: Representada em maior número por crianças com idade entre 9 e 11 anos, nesta fase os esquemas apresentados na fase anterior são abandonados. A figura humana apresenta detalhes em sua constituição, onde se procura caracterizar os sexos. A cor agora é percebida em suas variações. A linha de base começa a desaparecer, sendo substituída por linhas que recebem a função de simbolizar o horizonte, onde a cima localiza-se o céu e abaixo o solo. Surge a noção de sobreposição de planos e objetos.

- Fase Pseudonaturalista ou Fase da Regressão: Envolve, principalmente, adolescentes com idade entre 11 e 13 anos. Por estarem cada vez mais críticos de si e de suas produções, encerra-se a arte como atividade espontânea e começa a compreensão consciente do que se vê. Na figura humana são enfatizadas as características sexuais.Procura-se o Maximo de realismo nos desenhos das roupas. Existindo ainda uma grande tendência para a representação caricatural. Ocorrem os símbolos nas palavras. É descoberta a tridimensionalidade do espaço. Ocorre a diminuição dos objetos de fundo em relação aos da frente. A cor é determinada por reações emocionais. As produções refletem as vivencias, temores ansiedades e expectativas do individuo, podendo ser representada pela música, teatro, literatura etc.

- Período de Decisão: Fase que inicia constantemente aos 13 anos, estendendo-se até os 16 anos de idade. Não se observam acentuadas modificações em relação à fase anterior. É a fase onde o desejo sexual, a ambição e a energia estão à flor da pele. Existe maior satisfação da figura humana e de todos os demais desenhos. Desenhos decorativos, arquitetônicos e paisagísticos são típicos dessa fase, onde são utilizados os mais diversos materiais.

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